Alzheimer/Velhice

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O medo


É uma coisa assim, que chega no meio da madrugada, ou numa tarde de sol. A gente nunca sabe direito explicar. Vem e se instala. Paralisa, encaixota, prende. Alguns se deixam vencer, incapazes de sair da armadilha criada sabe-se lá como. Outros, debatem-se, agitam-se, e escapam. Não é coisa fácil porque, afinal, em cada esquina da vida ali está, a espreitar.

É a primeira espinha que deixa a carta torta, é o primeiro beijo que não se deu, é a nova escola, a cidade outra que não a mesma, outros amigos jamais feitos. É a timidez, é a insegurança, é o terror de abandonar as seguras margens onde sempre se esteve. O temor de dar o passo necessário, a ansiedade por não saber o que fazer.

O medo é essa coisa doida que desaloja, que desconforta, que dói. O medo é prisão da qual a alma se sente incapaz de sair. O medo vai sugando a alegria, o prazer, o sonho, a vida. O medo estanca todas as possibilidades. Ele é como um dragão, maior do que nós mesmos. Mas não é invencível. É só um balão inflado pelas nossas fantasias. Fruto da nossa incerteza. Tem remédio.

Dia desses, num encontro mágico, uma mulher quéchua me ensinou um encanto. Disse que quando ele viesse, voejando sobre mim, era para eu respeitar, porque o medo é só a outra face da coragem... “Há que rezar ao grande deus, Inti, e pedir que ele mande esta outra face. Depois, há que soprar, que o medo se transmuda em bravura. Mas tem que acreditar”. Desde então é assim! Quando o medo chega, eu sopro... E tudo fica como tem de ser.