E eis que aí está o 29 de novembro. Dia triste, hora da catástrofe. Quem é mais velho, lembra. Na mesma hora em que Fátima colhia azeitonas no seu quintal e Rachid tomava seu chá de maravia à sombra do alpendre, bem longe de sua terra - num lugar onde só entram os vencedores - decidiam os seus destinos e o de todo povo palestino.
Havia acabado a guerra, guerra feia, dura, grotesca e cruel. Nela, o governo alemão tinha promovido o massacre do povo judeu, dos ciganos e de outras gentes que apreciam como “diferentes”. Os judeus foram os mais atingidos, em função do grande número. Foi um holocausto. Por conta disso, no fim da guerra, os Estados Unidos decidiram que havia de dar uma terra para os judeus.
Foi assim, que numa reunião da Organização das Nações Unidas, que àquela época contava com 57 países, decidiu-se entregar 56% do território palestino para a formação do estado de Israel. O argumento era de que lá não havia povo, portanto, estava livre para ser ocupado. Não era verdade. Ali viviam milhares de seres, tal qual Fátima e Rachid. Numa sessão dirigida pelo brasileiro Osvaldo Aranha – qualificado por Alfredo Braga como um desonesto - 25 países votaram pelo sim, 13 foram contra e 17 se abstiveram.
Contam os historiadores de que, naqueles dias que antecederam a votação – que foi bastante tumultuada – diplomatas receberam cheques em branco, outros foram ameaçados e as mulheres dos políticos receberam casacos de vison. Portanto, assim nasceu Israel. Mas, tão logo se instalou, o governo israelense abocanhou, na força, 78% do território. E o estado da Palestina nunca foi criado. Em 1967, Israel, também com a força dos canhões, expandiu ainda mais o território, massacrando milhares de famílias palestinas.
Nenhum país se levantou contra isso. A solidariedade foi sempre das gentes, dos grupos de lutadores sociais, dos oprimidos, dos desvalidos. Na televisão os palestinos aparecem como os terroristas, os assassinos, os ferozes homens-bomba. Poucos falam da promessa não cumprida, da invasão do território, dos massacres sistemáticos e recorrentes. Hoje, o povo palestino vive confinado em espécie de campos de concentração, cercados por muros gigantes, impedidos às vezes até de ver seus parentes que moram em outros pontos do território. São prisioneiros em sua própria casa.
É por isso que o dia 29 virou um dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. Porque isso precisa parar. A gente palestina quer o direito de ter seu país, quer o direito de voltar para casa, assim como, um dia, os judeus também voltaram. O povo palestino quer paz, quer colher suas azeitonas, tomar o seu chá de maravia, casar os seus filhos, descansar no alpendre. É hora! É chegado o momento! Que as vozes se levantem e que a solidariedade se faça concreta.
Viva o Povo Palestino. Viva a Palestina Livre!