Alzheimer/Velhice

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Democracia ameaçada

Será realizado no dia 29 de novembro, quinta-feira, às 18h, no Hall do Centro Sócio-Econômico da UFSC, em Florianópolis, o lançamento da segunda edição do livro Universidade: a democracia ameaçada, organizado por Valdir Alvim, Waldir Rampinelli e Gilmar Rodrigues. Um das editoras de Pobres & Nojentas, Míriam Santini de Abreu, assina o artigo “A resposta do poder ao movimento grevista de nove meses na UERJ: ruptura do discurso e da prática da democracia.
Já Elaine Tavares, também editora de Pobres & Nojentas, assina, com Raquel Moysés, o artigo “Esta democracia?! Ou a invenção do novo...” A obra tem 14 artigos, com autores da UFSC e de outras universidades, entre os quais professores, técnicos-administrativos e estudantes.O livro Universidade: a democracia ameaçada tem como objetivo principal analisar e apontar novos rumos para o avanço de um processo democrático na universidade brasileira. Para tanto são abordados vários assuntos, entre os quais o papel dos intelectuais na sociedade, passando pela democracia e pelas eleições internas, focando o dirigismo dos órgãos fomentadores de pesquisa, analisando o carreirismo que leva “à raridade do pensamento crítico e abrangente”, discorrendo sobre o movimento estudantil e dos técnicos-administrativos, denunciando o expansionismo dos cursos pagos lato senso, discutindo a idéia de universidade e a recente reforma universitária.
Temas por demais importantes que requerem uma discussão constante. Universidade: a democracia ameaçada é o resultado de um debate permanente nas comunidades universitárias, bem como entre os próprios autores. O trabalho, editado há dois anos, segue absolutamente atual, basta dar uma analisada na últiam eleição para a reitoria que aconteceu este mês.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

A Universidade em segundo lugar!

A eleição que ocorreu na Universidade Federal de Santa Catarina mostrou a verdadeira cara da academia. Mesmo desmascarado como uma impostura intelectual - assinando artigos que não escreveu, citando autores que não conhece – o candidato oficial teve 59% dos votos válidos de um total de 13% da comunidade universitária que resolveu ir às urnas. Os que votaram decidiram por manter a universidade como um espaço de negócios. Não importa que o reitor eleito tenha usado de uma impostura para difundir seu conceito de universidade, não importa que ele não tenha capacidade intelectual, não importa que ele tenha usado de ameaças, dizendo que vai “rever” o Instituto que é dirigido pelo homem que foi seu adversário. Nada importa. O que vale é que ele, que já dirige um projeto da Embraco na UFSC, seja o gerente eficaz para comandar o volume de negócios que é feito dentro das portas desta instituição que deveria ser pública.

Os trabalhadores que gostam de choramingar e denunciar assédio moral, os professores que reclamam não ser valorizados, os estudantes que preferem protagonizar factóides, estes decidiram ou votar na proposta de “bussines” ou se omitir. Basta ver que 59% da comunidade não votaram. As pessoas preferiram ficar nas mesas dos bares a dizer que não gostam de política, que não dá para mudar nada, que a vida é mesmo assim, que os centros ligados às humanidades são preteridos, etc... Triste academia essa. Incapaz de avançar para a mudança. Imobilizada e medíocre.

O Hospital Universitário, lugar que de alguma maneira é decisivo numa eleição, também optou por seguir apostando nos mesmos de sempre. Os que privatizam, os que terceirizam, os que praticam violência no trabalho. Os trabalhadores, cativos da servidão voluntária, não acreditam na sua própria força. Preferem se ancorar nos “salvadores” que, no mais das vezes, são os seus carrascos. Escondem-se no subterrâneo dos pequenos privilégios que aparecem como benesses de um pai amoroso, como por exemplo, as seis horas, que administração alguma se atreve a legalizar, embora faça vistas grossas. Claro, servem como moedas de troca na hora da eleição.

Entre os professores nenhuma novidade. Já faz muito tempo que uma boa parte deles desistiu da idéia de universidade. O projeto desta maioria é a busca desenfreada de dinheiro através de convênios mediados pelas fundações. Não querem saber de pensamento crítico, criação do novo, casa do saber. Querem, no melhor estilo do personagem Justo Veríssimo, “se arrumar”, produzindo para o mercado. Fora os que negociam migalhas como computadores, um prédio ou bolsas para projetos. Vendem-se por trinta moedinhas e nada querem saber de universidade com compromisso social.

Já os estudantes dividiram-se entre os que defenderam com unhas e dentes seus interesses, como os do CTC e os do CCS, os que valentemente (poucos) acreditaram no novo e os que (imensa maioria) preferiram se omitir entregando a universidade para os abutres. Os alienados de sempre não surpreenderam. A nota triste ficou por conta de um pequeno grupo de “lutadores” que fazem belos discursos contra o Reuni ou contra a reforma universitária, mas que, quietos no seu canto, deixaram passar a possibilidade de mudar a UFSC, ainda que um pouquinho só.

E assim, a UFSC segue seu caminho. Conservadora, alienada, praticamente vazia de saber. O que movimenta a vida no campus é o negócio, agora firmemente respaldado por 59% das pouco mais de 13 mil almas que participaram do processo. Já a maioria, cordeiros, bale nas veredas da universidade. Está mais interessada no diploma ao final de quatro anos. Os estudantes entrarão e sairão das salas de aula como autômatos, esperando a hora da formatura para entrar no mercado. Os trabalhadores seguirão sendo achincalhados, humilhados, pisoteados, mas sempre sorrindo e amando a mão que bate. Os professores farão projetos e ganharão dinheiro. A sociedade? Que se exploda! Ou melhor, que pague, e caro, pelo saber que financiou.

Já os poucos, os de sempre, os que acreditam que a universidade pode ser um espaço de conhecimento comprometido com o social, de saber, de sabor, de transformação, estes seguirão, firmes na luta. Uma luta que se faz não apenas na retórica ou no ato heróico, pontual, mas no dia-a-dia, no cotidiano da universidade. Afinal, mudança é coisa que demora gerações. E o bom é que pessoas há que não desistem! Permanecem, com olhos críticos, a mostrar que o rei está nu... Um dia, é certo, as gentes também verão essa escancarada nudez!